Para Calvino, a oração não podia ser realizada sem disciplina. Ele
escreveu: “Se não fixarmos certas horas
do dia para a oração, ela escapará facilmente de nossa memória”. Ele
prescreveu várias regras para orientar os crentes a oferecerem oração fervorosa
e eficaz.
1. A primeira é um senso sincero de reverência.
Na oração, precisamos estar “dispostos
de coração e mente como convém àqueles que entram em conversa com Deus”.
Nossas orações devem brotar do “fundo de
nosso coração”. Calvino recomendava uma mente e um coração disciplinados,
afirmando: “As únicas pessoas que se
preparam devida e apropriadamente para orar são aquelas que são movidas de tal
maneira pela majestade que, livres dos cuidados e afeições terrenos, se
aproximam da oração”.
2. A segunda regra
é um senso sincero de necessidade e
arrependimento.
Temos de “orar com um senso
sincero de carência e arrependimento”, mantendo “a disposição de um pedinte”. Calvino não estava dizendo que os
crentes devem orar em favor de cada capricho que surge em seu coração, e sim
que devem orar penitentemente, de acordo com a vontade de Deus, tendo em foco
sua glória e anelando resposta, “com
afeição sincera, e, ao mesmo tempo, desejando obtê-la de Deus”.
3. A terceira regra
é um senso sincero de humildade e confiança
em Deus.
A verdadeira oração exige que “abandonemos
toda confiança em nós mesmos e supliquemos humildemente o perdão”,
confiando somente na misericórdia de Deus para recebermos bênçãos espirituais e
temporais, lembrando sempre que a menor gota de fé é mais poderosa do que a
incredulidade. Qualquer outra maneira de nos aproximarmos de Deus promoverá o
orgulho, que será letal. “Se
reivindicarmos algo para nós mesmos, por mínimo que seja”, estaremos em
perigo de destruir a nós mesmos na presença de Deus.
4. A regra final é
ter um senso sincero de esperança confiante.
A confiança de que nossas orações serão respondidas não surge de nós
mesmos, mas do Espírito Santo agindo em nós. Na vida dos crentes, a fé e a
esperança vencem o temor, para que sejamos capazes de pedir “com fé, em nada duvidando” (Tg 1.6).
Isso significa que a verdadeira oração é confiante na resposta, por causa de
Cristo e do pacto, “pois o sangue de
nosso Senhor Jesus Cristo sela o pacto que Deus estabeleceu conosco”.
Assim, os crentes se aproximam de Deus com ousadia e entusiasmo porque essa “confiança é necessária à verdadeira
invocação… que se torna a chave que nos abre a porta do reino dos céus”.
Opressivas? Inatingíveis?
Essas regras talvez pareçam opressivas — até inatingíveis — em face de
um Deus santo e onisciente. Calvino reconheceu que nossas orações estão
repletas de fraqueza e imperfeição. Ele escreveu: “Ninguém jamais cumpriu esse dever com a retidão que lhe era devida”. Mas
Deus tolera “até o nosso gaguejo e perdoa
a nossa ignorância”, permitindo que ganhemos familiaridade com Ele, em
oração, embora esta seja pronunciada de “forma
balbuciante”. Em resumo, nunca nos sentiremos como pedintes dignos. Nossa inconsistente
vida de oração é frequentemente atacada por dúvidas, mas essas lutas mostram
nossa necessidade contínua da oração como uma “elevação do espírito” e nos impele sempre a Jesus Cristo, que “transformará o trono da glória terrível em
trono da graça”. Calvino concluiu que “Cristo
é o único caminho e o único acesso pelo qual temos permissão de ir a Deus”.
Este trecho é uma adaptação da
contribuição de Joel Beeke no livro João Calvino: Amor à Devoção,
Doutrina e Glória de Deus
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