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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Entrevista com a escritora Tatiana Belinky



Entrevista com a escritora Tatiana Belinky para a série "Primeira Pessoa", exibida no Jornal 10, da Rede 21/ PlayTV no início de 2008. 



Nota: A história de vida de Tatiana Belinky é tão emocionante quanto os livros que ela escreve para as crianças. Nascida na Rússia, poliglota e escritora desde sempre, chegou ao Brasil aos 10 anos, fugindo com a família das mazelas da guerra civil provocada pela revolução comunista que, em 1917, fez nascer a antiga União Soviética. Seu primeiro livro infantil, Limeriques (Ed. FTD), foi publicado em 1987.  Tatiana Belinky  é uma das mais importantes escritoras infanto-juvenis contemporâneas. É autora de mais de 120 livros voltados para este público. [Maria A. Paiva Corá]


Quem é importante?






Certo dia, num caderno,
Numa página interna,
Deu-se a grande reunião
Dos sinais de pontuação,
Para decidir, no instante,
Qual o que é mais importante.

E logo, todo sinuoso,
A rebolar-se, entrou, pimpão,
O enxerido e mui curioso
Dom Ponto de interrogação:
- Quem é?
- Por quê?
- Aonde?
- Quando? – ele só vive perguntando ...


Chegou correndo, afobadão,
O Ponto de Exclamação,
Bufando, muito excitado,
Entusiasmado ou assustado.
– Socorro!
– Viva!
–Saravá!
– Dá o fora! – sempre a berrar!

E vêm as Vírgulas dengosas,
Muitos falantes, muito prosas,
E anunciam: – Nós meninas
Somos as pausas pequeninas,
Que, pelas frases espalhadas,
São sempre tão solicitadas!

Mas já chegam os Dois-Pontos,
Ponto-e-Vírgula, e pronto!
Tem início a discussão,
Que já dá em confusão:
–Sem por cima ter um ponto,
Vírgula é um sinal bem tonto! –
Ponto-e-Vírgula declara,
Arrogante, e fecha a cara.
–Essa não!  Tenha paciência! –
Intervêm as Reticências.
–Somos nós as importantes,
Tanto agora como dantes:
Quando falta competência,
Botam logo...  Reticências!

Til e Acento Circunflexo,
Numa discussão sem nexo,
Cara a cara, bravos, quase
Se engalfinham.  Mas a Crase
Corta a briga, ao declarar:
–Poucos sabem me empregar!
Me respeitem pois bastante,
Já que eu sou tão importante!

Mas Dois-Pontos protestou:
–Importante eu é que sou!
Eu preparo toda a ação
E a e-nu-me-ra-ção!...

–É aqui que nós entramos!
Nós, as Aspas, e avisamos:
Sem nossa contribuição
Não existe citação!

A Cedilha e o Travessão
Já se enfrentam, mas então,
Bem na hora, firme e pronto
Se apresenta o senhor Ponto:
–Importante é o meu sinal.
Basta. Fim. PONTO FINAL.

Tatiana Belinky, Di – Versos russos. São Paulo, Scipione.



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Tatiana Belinky nasceu em 1919, em São Petersburgo, na Rússia, e chegou ao Brasil em 1929. Publicou livros em prosa e versos, além de traduções, adaptações e recontagens. Entre 1952 e 1966, fez a primeira adaptação para a televisão da série Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Colaborou na TV Cultura e em importantes jornais como crítica de literatura infantil e juvenil e de teatro. 

Recebeu inúmeros prêmios, entre eles: Mérito Educacional e Jabuti de Personalidade Literária do Ano, concedidos pela Câmara Brasileira do Livro; dois Monteiro Lobato de Tradução da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Foi, ainda, premiada em 1979 pelos 30 anos de atividades em Teatro e Literatura Infanto-Juvenil pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
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FALANDO SOBRE O POEMA

O poema mostra de maneira descontraída a importância dos sinais de pontuação utilizados na linguagem escrita.  A autora  dá vida aos sinais, personificando-os, atribuindo-lhes sentimentos humanos, como vaidade e orgulho e ressalta suas qualidades.

Com o poema vamos relembrar este assunto que aprendemos desde bem pequenos na escola: a pontuação. Ela é um sistema de sinais que tenta reproduzir na escrita as pausas e maneiras de falar os sons, além de criar relações de independência ou dependência entre frases. Assim, a pontuação organiza as idéias  para que todo o texto não pareça um amontoado de palavras!


Vejamos quais são os sinais de pontuação:


O ponto de interrogação é o enxerido e muito curioso. Ele só vive perguntando ... Ele é o sinal que se usa no final da frase quando fazemos uma pergunta diretamente a alguém ou algo.
Ex.: “Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?” (Salmos 116:12)

A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Segundo o poema ela sem o ponto acima é “um sinal bem tonto”, indicando assim que o ponto seria o cérebro ou a cabeça da vírgula; que sem ele,  ficaria desorientada.

O ponto-e-vírgula é usado para indicar uma pausa mais demorada, depois que já se empregou a vírgula.

O ponto de  exclamação expressa sentimentos de dor, de alegria, de tristeza, de surpresa, de espanto, de raiva, de súplica e de muitas outras reações emotivas.
Ex.: “Este é o dia  da vitória de Deus, o SENHOR; que seja para nós um dia de felicidade e alegria!” (Salmos 118:24 – NTLH)

Ah, as reticências ...  Elas são usadas por  “falta de competência”, para indicar a suspensão ou interrupção do pensamento segundo o poema.  Realmente elas marcam uma pausa na frase, causando suspense, interrupção rápida em uma fala e até expressões como zombaria! Elas sugerem uma interpretação do pensamento ou por que você prefere esconder o que pensa, ou até espera que o outro imagine.
Ex.: Se eu tomasse menos sorvete, o meu corpo agradeceria...


Quanto a função dos dois-pontos e das aspas podemos dizer que os dois-pontos são colocados antes de uma enumeração ou citação. Assinalam uma pausa para indicar que a frase não foi concluída, isto é, há algo a se acrescentar. Já as aspas aparecem em citações para indicar que não foi você que escreveu e também para indicar a fala do personagem (podendo ser em lugar do travessão).

O travessão é um traço que  vem antes  da fala de um personagem e também para interrompê-la, colocando o narrador.  Esse sinal serve para destacar uma palavra, expressão ou frase no texto.

Por hoje é só. Até breve!

Maria A. Paiva Corá


Vou-me embora pra Pasárgada




                                                           Manuel Bandeira



Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

                                                   Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa.





FALANDO SOBRE O POEMA

“Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira

 

 

“Vou-me Embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. (...) Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas” suscitou na imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias. Mais de vinte anos quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me Embora pra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo mas fracassei. Abandonei a idéia. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço, como se já estivesse pronto dentro de mim. [Manuel Bandeira]

 

 

Vou-me embora para Parsárgada é um poema do escritor modernista brasileiro Manuel Bandeira. Este poema caiu no gosto dos intelectuais e também de pessoas comuns. É utilizado para dizer que existe um lugar  melhor onde se pode realizar seus desejos sob o meio ideal e imaginário como no sentimento de utopia. Entre inúmeras outras interpretações o poema se fortalece no meio erótico como função de conforto. O poema  se mostra nostálgico e é entendido como forma de compreensão da solidão, da fuga do monótono e da infelicidade. Pasárgada é um mundo em que o poeta não é doente. Pasárgada é o paraíso dele. Lá tudo é possível. É a criação de um espaço mágico, onde a simples vontade é lei, correspondendo ao desejo  de ter em sonho o que não pode ter na vida real, como uma espécie de compensação das frustrações da vida cotidiana.

 

Segundo esclarece o próprio poeta, Pasárgada significa “campo dos persas ou tesouro dos persas”. Esse nome, que provocou nele a ideia de uma paisagem fabulosa, um país de delícias, deu origem ao poema. Pode-se dizer que Manuel Bandeira, sendo um rapaz muito doente, não pôde gozar a vida como desejaria; através da poesia, porém, ele cria um mundo imaginário, a sua Pasárgada, onde todos os desejos se transformam em realidade. 

 

O poeta disse: “Lá sou amigo do rei”, enfatizando  que em Pasárgada, existe também a possibilidade de realização de seus  anseios materiais e assim todas as vantagens possíveis e imagináveis trariam ao eu-poético.  A  visão de sociedade que encontramos implícita nesse verso é que a  amizade com pessoas de influência facilita as coisas. Também tem a possibilidade  de livrar-se de preconceitos, dogmas morais e fazer tudo aquilo o que  quer. O interessante é que esse mesmo verso aparece entre travessões na última estrofe do poema com o objetivo de ser um lembrete para brincar com o leitor, provavelmente chocado com a fala do poeta: “a vontade de me matar” depois da euforia.

 

Como podemos observar no estudo da obra de Bandeira, o dado biográfico é muito importante. Muita coisa de sua vida ficou truncada pela doença, como ele próprio diz: “Tuberculose era chamada, na minha época, de a doença que não perdoa...”. Nessa perspectiva, Pasárgada representa o mundo do sonho, da fantasia, onde é possível realizar tudo, inclusive as atividades proibidas pela doença, como fica patente na terceira estrofe do poema. Lá ele poderá amar à vontade, poderá praticar todos atos físicos que a saúde lhe veda no mundo real.

 

As palavras e aqui no poema constituem uma antítese. Esses advérbios  tem um significado no contexto. significa o mundo ideal, do sonho, da fantasia; aqui,  o tempo e o espaço reais do poeta. Essa postura de evasão da realidade, isto é, o desejo de fugir para um mundo ideal  já tinha ocorrido no Romantismo (estilo de época - outro momento da literatura brasileira)  com certa frequência.   

 

Quanto ao aspecto formal, a estrutura que foi usada no poema para se obter um ritmo fluente, de nítida característica popular foi redondilhas maiores (versos de sete sílabas). Podemos dizer que o poeta é inovador, porém  guardando um estado de espírito semelhante a poetas estudados no passado. Observamos que o poema apresenta ritmo apesar de não haver rigor quanto à forma. Em relação ao conteúdo, grande parte dos poetas de todos os tempos demonstra insatisfação com a realidade presente e com os rumos do homem.

 

Vamos agora ler a seguinte estrofe, extraída do poema “Testamento”, de Manoel Bandeira:

 

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

 

Aprendemos de diversos poemas de Manuel Bandeira que ele viveu prisioneiro de um mal que o consumiu. Se lermos esse trecho e a segunda estrofe de “Vou-me embora  pra Pasárgada”, notamos uma relação de causa e conseqüência.  Como o poeta não teve filhos, não poderia ter noras. Já nos  últimos versos da estrofe: “Mas trago dentro do peito Meu filho que não nasceu”  podemos afirmar sem medo de errar  que ele traz amor dentro de si.

 

A pergunta que não quer calar é: Se Pasárgada é tão “perfeita”, por que o poeta ficaria triste? Podemos dizer que é porque  ele buscou soluções no mundo exterior para resolver sua angústia e seus problemas,  mas tudo serviria apenas para distraí-lo às vezes.

 

Shalom!

 

Maria A. Paiva Corá


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Como amigos






O apóstolo João escreveu sua terceira epístola quando já estava muito velho. Quando ele a escreveu, Pedro, Paulo e o restante dos doze apóstolos já haviam morrido. Essa terceira epístola é bastante diferente das outras duas. Ele referiu-se aos destinatários da primeira como “pais, jovens e filhinhos”, falando de maneira formal com eles. Mas no último versículo da terceira epístola, ele tomou uma posição muito especial e carinhosa. Ele  morreria em pouco tempo; estava já bem velho, provavelmente com mais de noventa anos; ele tinha andado tanto com Deus que, quando escreveu essa carta, ao invés de chamá-los irmãos, irmãs, filhinhos, jovens ou pais, ele disse: “Os amigos te saúdam. Saúda os amigos pelo seu nome” (3 João 1:15).

Por muitos anos João seguira ao Senhor Jesus, e ao Seu  lado    tivera muitas experiências  maravilhosas.  Ele ficou conhecido como  o “Apóstolo do amor”. Agora, porém não só por sua idade já avançada, mas por tudo que vivera, ele poderia muito bem chamar alguém de sessenta ou setenta anos de “meu filho”.  Mas ele preferiu chamar a todos  de “meus amigos”. A  posição formal  e de  superioridade  foi  esquecida e deixada de lado.  Como o Senhor Jesus se tornou amigo dos pecadores, como Abraão foi feito amigo de Deus, assim também o apóstolo João trata esses filhinhos, jovens e pais como amigos. Que rica experiência espiritual isso indica para nós.


Shalom!


Maria A. Paiva Corá











INFERNO NACIONAL






Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. [...] Ao morrer nem conversou: foi direto para o Inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou:

- Qual é o lance aqui?

Satanás explicou que o Inferno estava dividido em diversos  departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrativo pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.

Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o Departamento dos Estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade. Entrou no Departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime.

- Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de 200 graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de 100 graus abaixo de zero até às três horas, e voltar ao forno de 200 graus.

O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era tudo a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamentos era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo o lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de 200 graus durante o dia e geladeira de 100 graus abaixo de zero, pela tarde.

O falecido já caminhava desconsolado por uma rua infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: "Aqui tem peixe por debaixo do angu". Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:

- Fica na moita, e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio enguiçada. Não dá mais de 35 graus por dia.

- E as quinhentas chibatadas? Perguntou o falecido.

- Ah... o sujeito encarregado desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.

                                                                                                            Stanislaw Ponte Preta




CONVERSANDO SOBRE O TEXTO

Esta  história   surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá numa versão política. Não é o nosso caso aqui, porque ela será contada  no seu mais puro estilo folclórico.

Logo no começo, no  primeiro parágrafo já podemos  observar a presença de eufemismo (quando queremos atenuar uma idéia ou fato desagradável e procuramos substituir a palavra ou expressão que a traduz por outra mais suave): “Abotoou o paletó”, suavizando a idéia de morte, que acaba dando mais humor ao texto.

Podemos notar que o principal desejo do personagem central era encontrar, dentro do inferno um departamento menos rigoroso. E assim o personagem vai agindo para satisfazer seu desejo, como sair à procura de um departamento menos severo. Mas acaba encontrando um obstáculo: quase todos os departamentos seguiam o mesmo esquema.

O primeiro departamento visitado pelo personagem foi o dos Estados Unidos, pois achou que encontraria por  lá um inferno organizado  mas  acaba desistindo de freqüentar o departamento daquele país, por  achar muito rigoroso, com penas muito severas.  Infelizmente  hoje muitas pessoas acreditam que a vida nos Estados Unidos é muito melhor do que em seu país de origem e acabam se dando mal.

Podemos observar que a  organização dentro do inferno obedecia a regras comuns e preestabelecidas: “Foi aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamentos era apenas para facilitar o serviço no Inferno, mas em todo o lugar o regime era o mesmo (...)”.

Ao observar a fila na porta do departamento brasileiro, o personagem pensou: "Aqui tem peixe por debaixo do angu", ou seja,  há algo oculto por aqui. Para não chamar a atenção, o colega de fila do departamento brasileiro falou baixinho, pois tinha medo de chamar a atenção. Provavelmente  temia que alguém descobrisse que as coisas não funcionavam bem naquele lugar  e que resolvesse torná-lo igual aos demais departamentos.  Ao esclarecer os motivos de haver uma fila tão grande naquele  departamento, revelou também   duas críticas comuns feitas em relação ao Brasil: Que as coisas nunca funcionam direito por aqui e que os funcionários públicos nunca trabalham.

Outra expressão bastante popular que poderia ter sido usada pelo personagem, no sétimo parágrafo,  com o mesmo significado de   “Pensou com suas chaminhas”,  seria   “Pensou com seus botões”, que tem o mesmo significado de pensar, de refletir.

Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Marcus Rangel Porto (11 de janeiro de 1923 - 30 de setembro de 1968, Rio de Janeiro); foi um cronista, escritor, radialista e compositor brasileiro.


Stanislaw Ponte Preta geralmente emprega linguagem coloquial em seus textos cômicos. É esse coloquialismo que confere maior dose de humor. No texto podemos retirar pelos menos cinco  exemplos de uso de linguagem coloquial: “Abotoou o paletó”, “Qual é o lance aqui?”, “O falecido ficou besta”, “Tratou de cair fora” e  “Fica na moita”.

O texto “Inferno nacional” faz uma boa critica, por meio do humor, de algumas características bem brasileiras,  como por exemplo que o funcionário público é alguém que não gosta de trabalhar e que só se preocupa com o seu salário (“... assina o ponto e cai fora”). Qualquer semelhança não é mera coincidência...


Shalom!


Maria A. Paiva Corá