Na bíblia, em II Reis 2.23 a 25, nos mostra uma história interessante sobre um incidente envolvendo alguns rapazes no antigo Israel, com o profeta Eliseu, que não acabou nada bem.
Eliseu foi discípulo do Profeta Elias e chamado para ocupar o seu lugar, depois que ele foi levado para o Céu. Uma das responsabilidades de Eliseu era dirigir algumas escolas, localizadas em várias cidades do antigo Israel. Certo dia, o profeta Eliseu, considerado o ” homem de Deus”, viajou para Betel, onde havia uma dessas escolas de profetas.
Quando ele chegou naquela cidade, e, andando ele pelo caminho, um grupo de rapazinhos, provavelmente garotos no fim da adolescência, saiu da cidade, e começou a zombar dele, e diziam-lhe: “Sobe, careca; sobe, careca!” Elizeu não era velho, porque só veio a morrer cinqüenta anos mais tarde, mas já se encontrava totalmente calvo.
Obviamente o insulto tinha como alvo não somente a calvície de Eliseu, mas a Deus que ele representava. Com o escárnio para com Eliseu e a rejeição de sua autoridade profética, os rapazes estavam afrontando e rejeitando a autoridade de Deus. A zombaria deles também representava a irreverência de uma geração que demonstrava crescente desrespeito para com os mais velhos. E “Sobe, sobe” tinha também o significado de “cai fora” ou talvez “vai logo para o Céu (como Elias), seu santarrão”, uma referência sarcástica à ascensão do profeta Elias. Além das gritarias, eles deveriam estar fazendo gestos obscenos e ameaças. Esses rapazes tinham perdido totalmente a noção do perigo porque insultar Deus e a Sua Palavra pode ser muito perigoso.
O profeta Eliseu era um homem íntegro, muito bondoso e calmo, mas precisava defender a honra de Deus. Então, ele encarou os moços, com firmeza, e os amaldiçoou no nome do Senhor. Depois, simplesmente seguiu o seu caminho. No entanto, alguns daqueles moços ainda incitavam os demais a continuar a brincadeira infeliz quando duas ursas enormes saíram do bosque, e atacaram, despedaçando naquele dia, quarenta de dois deles.
Você deve estar pensando: Como poderia um homem de Deus amaldiçoar tantas pessoas por causa de uma ofensa tão pequena? Veja bem, Eliseu não agiu em vingança, mas Deus deve ter usado as ursas para advertir aquela geração corrupta. Se estudarmos cuidadosamente esse incidente, em seu contexto, podemos perceber que foi um caso muito mais sério do que “uma simples ofensa”.
Esses jovens delinqüentes estavam perambulando pelas ruas em grupos de cinqüenta ou mais companheiros, prontos para perturbar até mesmo um homem de Deus conhecidíssimo, como Eliseu. Não se podem imaginar quanta violência teria praticado aos adultos reunidos no centro de Betel, caso lhes fosse permitido prosseguir na delinqüência. Talvez tenha sido por isso que Deus julgou ser apropriado que quarenta e dois deles fossem sentenciados à morte dessa forma espetacular.
É certo que, desse dia em diante, toda a comunidade israelita tornou-se convicta de que Eliseu era um verdadeiro profeta e trazia uma palavra repleta de autoridade da parte de Deus. Até mesmo o impiedoso rei Jorão, filho de Acabe, passou a tratá-lo com grande deferência e respeito, depois desse fato, conforme está registrado em 2 Reis 3.11-13.
Essa calamidade mostra também que somos responsáveis pelos nossos atos, desde muito cedo. E devemos ter muito cuidado com o hábito de ridicularizar os outros, principalmente aqueles que estão a serviço de Deus. Quando não conseguimos respeitar o sentimento dos outros, muitas vezes usamos, até sem perceber, meios de anular a outra pessoa. É o que acontece, por exemplo, quando ridicularizamos as pessoas, fazendo piadinhas.
Todos saem perdendo quando deixamos uma pessoa infeliz, sentindo-se rejeitada, não só a chamada “vítima”. O ambiente onde todos têm que conviver fica muito desagradável e o clima menos acolhedor. Colocar-se no lugar do outro, tentar perceber o que ele sente, é um excelente jeito de compreender melhor a vida. No Novo Testamento, na carta aos Hebreus nos ensina que cada um deve se colocar no lugar dos que sofrem: “ Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles. E dos maltratados, como se habitásseis no mesmo corpo com eles” (Hebreus 13:3).
Shalom!
Maria Paiva Corá
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